Perdida

Bem... Nunca pensei mas estou perdida.. Tenho de arranjar as minhas coisas para levar para a capital e não faço mínima ideia o que hei-de levar, não sei o que preciso!

Tenho de deixar as minhas cenas arrumadas aqui também mas não sei para onde me hei-de virar...

Este é o meu quarto, aqui tenho a minha vida, a minha privacidade... E quando já aqui não estiver diariamente, vai deixar de ser... É o defeito de ter uma mãe coscuvilheira... Não sabe não mexer no que não é dela...

Quero muito que a minha vida profissional corra bem e que consiga ficar na capital por muitos anos... Quero ter a minha casa, sem me preocupar no que levo ou deixo em casa dos meus pais. Embora não tenha nada de importante no meu quarto, aqui é o meu santuário... Se há coisa que detesto é que mexam nas minhas coisas.. Aqui tenho memórias de toda uma vida.. Bilhetes de tempos de escola, quando era uma pita e pensava como uma... Fotografias mais pessoais de amigos, namorados que apesar de tudo fizeram parte da minha vida. Bilhetes perdidos em gavetas dos tempos em que andava deprimida, coisas que não fazem sentido mas que hoje até faz bem ler...

Coisas que lidas pela minha mãe, fora do seu contexto, parecem coisas piores do que o que eram... Principalmente aos olhos da minha progenitora, que apesar de minha mãe e pessoa que muito amo, é a pessoa que mais mal me faz sentir, pois nunca a vi a defender-me do que quer que seja, elogiar-me ou ficar feliz por mim.

E, aqui, a olhar ao redor, noto que no dia que for capaz de me desligar desta casa, deste quarto, e um bocado dos meus pais é quando possivelmente vou conseguir alcançar um pouco da felicidade como conseguiu a minha irmã quando se casou e saiu de casa.

Mas até lá, sinto receio. Tanto pelo quarto que aqui deixo, mesmo que volte todos os fins de semana, como por todas as memórias. Acho que estou a deixar de fazer sentido, mas tenho tanta coisa na minha cabeça, sinto-a a girar, sinto-me confusa. Sinto-me sem sentidos. Sinto-me sozinha.